Ozônio em milho de pipoca (Zea mays var. everta) para o combate de pragas e insetos, foi objeto de estudos de Universidades brasileiras. O milho de pipoca é um alimento popular apreciado por milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, como outras culturas, o milho de pipoca é suscetível a pragas e insetos, o que pode afetar significativamente seu rendimento e qualidade.

Os agricultores tradicionalmente contam com pesticidas químicos para controlar as pragas, mas esses métodos podem ser prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana. Nos últimos anos, o uso do gás ozônio surgiu como uma alternativa promissora aos defensivos químicos no controle de pragas e insetos na cultura do milho pipoca. Neste artigo, veremos mais um exemplo de uso de ozônio em alimentos e seu potencial como um método de controle de pragas ecologicamente correto e eficaz.

Aplicação de ozônio em milho de pipoca

Autores: Marcus Vinicius de Assis Silva

Eugênio da Piedade Edmundo Sitoe

A pipoca pode ser produzida através do processo de estouro de grãos de cereais como sorgo, milheto, arroz e milho. O milho de pipoca (Zea mays var. everta (Sturtev) L. H. Bailey) é um tipo especial de grão destinado primariamente ao consumo humano. O milho de pipoca após a expansão apresenta excelentes propriedades nutricionais com teor médio de fibra alimentar de 17,79% e baixo teor calórico. Além disso apresenta sensação de saciedade, com baixo teor de gorduras, carboidratos de digestão lenta, boa biodisponibilidade de proteínas, grande quantidade de vitaminas e minerais.

O milho de pipoca é um grão que apresenta um núcleo de amido envolvido pelo pericarpo. Quando os grãos são submetidos a um aquecimento uniforme, o amido adquire uma consistência gelatinosa. A água interna presente no amido é convertida em vapor e a pressão interna do grão aumenta. Logo em seguida ocorre a ruptura do pericarpo e o vapor de água se expande levando consigo o amido gelatinoso. O amido, ao entrar em contato com o ar circundante resfria-se instantaneamente e forma uma substância fofa conhecida como pipoca.  A temperatura e pressão interna no momento da expansão podem chegar a atingir 180 °C e 10 atm, respectivamente (Hoseney et al., 1983; Soylu & Tekkanat, 2007).

As características físicas desenvolvidas durante a expansão estão associadas a aceitação do produto pelo mercado consumidor. Portanto, fatores como danos mecânicos (Goneli et al., 2007) e danos causados pela presença de insetos-praga alteram o volume de expansão dos grãos. Grãos de milho de pipoca e os demais grãos de cereais são suscetíveis ao ataque de carunchos. Uma vez perfurado o tegumento do grão ele perde a sua capacidade de expansão.

Além disso, os carunchos são vetores de esporos de fungos. Diferentemente dos insetos que possuem mobilidade pela massa de grãos, os fungos não possuem mobilidade e contaminam a massa de grãos através da passagem dos grãos por transportadores e equipamentos contaminados ou até mesmo na forma de esporos aderidos no exoesqueleto dos insetos-praga. Os fungos assim como os insetos causam diversos danos a qualidade dos grãos e ainda podem produzir as micotoxinas que são compostos carcinogênicas, teratogênicas e mutagênicas.

Os problemas provenientes da infestação de insetos-praga e contaminação fúngica dos alimentos, cada vez mais tem sido a preocupação por parte dos gerentes e demais colaboradores dos setores de qualidade das indústrias de alimentos.  Isso tem motivado muitos pesquisadores e empresas especializadas em tecnologias emergentes a desenvolver métodos de controle alternativos ao controle químico tradicional. O uso do gás ozônio tem se destacado como uma das tecnologias alternativas para a proteção e descontaminação de hortaliças, frutas e alimentos secos, tais como grãos.

Em um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal do Acre (UFAC), ficou evidente a eficiência do gás ozônio no controle de Sitophilus zeamais. (https://doi.org/10.1016/j.jspr.2019.06.014). Ainda com milho de pipoca outra pesquisa realizada na UFV publicada no Periódico Ozone Science Engineering (https://doi.org/10.1080/01919512.2021.1937043) demonstra a eficiência do tratamento com gás ozônio para controle de insetos adultos de Sitophilus zeamais em grãos de milho de pipoca já embalados utilizando injeções de ozônio a baixa pressão em câmara hipobárica. Em ambos os estudos foi determinado o volume de expansão dos grãos após exposição ao gás ozônio demonstrando que o ozônio foi eficiente no controle de insetos-praga e não alterou a qualidade dos grãos.

Os pesquisadores ainda determinaram que o ozônio foi eficiente para realizar a descontaminação fúngica de milho de pipoca atingindo uma inativação superior a 95% nas amostras de grãos contaminadas artificialmente com Aspergillus flavus como mostra a imagem onde foi utilizada a técnica do Plaqueamento direto.

 

Fonte: Silva, 2022.

Referências:

Hoseney, R. C., Zeleznak, K., & Abdelrahman, A. (1983). Mechanism of popcorn popping. Journal of Cereal Science1, 43-52.

Soylu, S., & Tekkanat, A. (2007). Interactions amongst kernel properties and expansion volume in various popcorn genotypes. Journal of Food Engineering80, 336-341.