A névoa ozonizada em pimentão vermelho com película protetora (também conhecida por “segunda pele”) lançada no mercao brasileiro pela FR Embalagens surge como uma alternativa promissora para a conservação pós-colheita, conforme pesquisa realizada em Julho de 2024 nas dependências do Laboratório de Ozônio do Departamento de Engenharia Agrícola da UNICAMP coordenada pelo pesquisador Eugénio da Piedade Edmundo Sitoe, doutor em Engenharia Agrícola e responsável pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da myOZONE.
Os pimentões vermelhos, apesar de sua importância nutricional e econômica, são altamente perecíveis. As perdas pós-colheita, que podem chegar a 40% da produção total, representam um desafio bastante significativo para a indústria.
Tradicionalmente, a lavagem com cloro tem sido utilizado na sanitização pós-colheita, mas seu uso levanta preocupações ambientais e de saúde devido à formação de subprodutos tóxicos e ao alto consumo de água. A névoa ozonizada, por outro lado, apresenta-se como um agente sanitizante eficaz e seguro, capaz de inativar uma ampla gama de microrganismos sem deixar resíduos químicos. A combinação da névoa ozonizada com a aplicação de “segunda pele”, que atuam como barreiras físicas contra a perda de água e a ação de microrganismos, oferece uma abordagem abrangente para a conservação pós-colheita.
Neste contexto, os pesquisadores investigaram a eficácia da névoa ozonizada e da segunda pele na manutenção da qualidade pós-colheita do pimentão vermelho. Seus resultados são bastante promissores e demonstram a redução significativa da presença de bolores e leveduras abrindo caminho para uso da névoa ozonizada para desenvolvimento de práticas de conservação mais eficientes e sustentáveis na indústria de frutas e hortaliças. A análise detalhada da presença de microrganismos patogênicos e da perda de massa fornece informações cruciais para a otimização dessas técnicas, promovendo melhorias na qualidade e segurança dos pimentões.
Os pimentões vermelhos (Capsicum annuum L.) são hortaliças amplamente cultivadas e consumidas no mundo devido ao seu sabor e benefícios nutricionais. Os pimentões são ricos em vitaminas A, C e antioxidantes (Dong et al., 2021; Zhang et al., 2021). No entanto, assim como outras hortaliças, os pimentões são altamente perecíveis, apresentando desafios significativos na manutenção de sua qualidade durante o armazenamento e transporte. As perdas pós-colheita podem variar de 20% a 40% da produção total, resultando em prejuízos econômicos para produtores e distribuidores. Além disso, reduzem a disponibilidade de produtos de alta qualidade para os consumidores.
Tradicionalmente, o cloro é usado na sanitização pós-colheita de pimentões. No entanto, o uso extensivo de cloro apresenta desafios ambientais e de saúde, como a formação de subprodutos tóxicos, incluindo trihalometanos e ácidos haloacéticos, que são potencialmente carcinogênicos (Chinchkar et al., 2022; Lin & Tsai, 2023). Além disso, o uso de cloro requer grande quantidade de água, contribuindo para a escassez de recursos hídricos e impactos ambientais negativos. A penetração de água clorada, durante o processo de higienização, nos pimentões também pode comprometer sua qualidade.
Devido a esses desafios, foi necessário explorar método alternativo, como o uso de névoa ozonizada, que é uma tecnologia emergente e um poderoso agente oxidante eficaz na inativação de uma ampla gama de microrganismos nos alimentos sem deixar resíduos químicos indesejáveis. Estudos científicos demonstram que a névoa ozonizada pode melhorar a qualidade microbiológica de frutas e hortaliças e prolongar sua vida útil (Tominaga et al., 2015; Tanuwidjaja et al., 2022; Magalhães, 2023). Além da sanitização, a aplicação de películas protetoras também é uma estratégia eficaz para a conservação pós-colheita dos pimentões, atuando como barreiras físicas que limitam a perda de água e a ação de microrganismos patogênicos.
Um grupo de pesquisadores da myOZONE e da Universidade Estadual de Campinas avaliou a eficácia da névoa ozonizada e da adição da película protetora na manutenção da qualidade pós-colheita do pimentão vermelho. A análise detalhada dos parâmetros, como a presença de microrganismos patogênicos e a perda de massa, não apenas demonstrou os benefícios dessas técnicas, mas também forneceu informações cruciais para a indústria de frutas e hortaliças. Esses dados são essenciais para o desenvolvimento contínuo de práticas de conservação mais eficientes e sustentáveis, promovendo melhorias significativas na qualidade e segurança dos pimentões.
- MATERIAL E MÉTODOS
- Materiais
Para o fornecimento de oxigênio, foi utilizado oxigênio proveniente de um concentrador modelo Yuwell, aplicado a uma vazão volumétrica de 1,0 L min⁻¹. A quantificação da vazão volumétrica da aplicação de oxigênio foi realizada por meio de um medidor de vazão modelo MF5700 (Siargo Ltd, Chengdu, Sichuan, China). A ozonização dos pimentões vermelhos foi realizada em uma câmara de acrílico (Figura 2). Antes da ozonização com névoa ozonizada, foram colocadas pequenas prateleiras no interior da câmara de acrílico e o ambiente interno foi desinfetado com ozônio. A concentração de ozônio foi medida pelo método iodométrico (Rakness et al., 1996), sendo a concentração de entrada de ozônio de 20,11 mg L⁻¹. Como controle, foram utilizados pimentões tratados com hipoclorito de sódio. Pimentões não ozonizados e não tratados com hipoclorito de sódio foram usados como testemunhas.
Figura 1. Configuração experimental adotado no estudo.
O estudo foi conduzido pela myOZONE nas dependências do Laboratório de Pós-colheita do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Utilizaram-se pimentões vermelhos provenientes da produtores do estado do Ceará. Inicialmente, os pimentões não embalados e tratados com névoa ozonizada foram pesados e acondicionados em bandejas retangulares de poliestireno (15 cm x 15 cm), previamente identificadas de acordo com o tempo de exposição avaliado. Como controle, utilizaram-se pimentões tratados pela empresa fornecedora que utiliza um processo de lavagem em solução com 400ppm de hipoclorito de sódio e submetidos à embalagem padrão (Figura 2 C).
- Métodos
A Figura 2 traz a representação do esquema experimental adotado no trabalho. Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) com três repetições. O experimento consistiu em 04 tratamentos, compostos por exposições de 5, 10 e 15 minutos do pimentão à névoa ozonizada, além do tratamento padrão com cloro (Figura 2).
Figura 2. Delineamento experimental dos tratamentos de névoa ozonizada e hipoclorito de sódio
Os resultados observados, mostraram que a névoa ozonizada reduziu significativamente a presença de bolores e leveduras nos pimentões em comparação com o tratamento com cloro e sem tratamento. É importante destacar que a contagem de bolores nos pimentões tratados com névoa ozonizada por 5, 10 e 15 min permaneceu inferior a 2,00; 3,00 e 1,50 log UFC g-1 durante o armazenamento. No caso da inativação de leveduras com névoa ozonizada, adotando-se períodos de exposição de 5, 10 e 15 min, a contagem foi de 2,50; 2,50; 1,50 log UFC g-1 após 14 dias de armazenamento.
Tabela 1. Contagem de bolores e leveduras (log UFC g−1) em pimentões vermelhos tratados com névoa ozonizada, com e sem película protetora, durante armazenamento a 25°C e umidade relativa de 60% por até 21 dias.
Pimentões não tratados com névoa ozonizada e armazenados por 21 dias apresentaram esporos de fungos visíveis (Figura 3). Essa observação destaca a necessidade crucial da combinação entre processos de sanitização eficazes e embalagens adequadas para assegurar o armazenamento seguro dos pimentões. Essa associação estratégica não apenas protege a qualidade do produto, mas também prolonga sua vida útil, atendendo aos padrões de segurança alimentar exigidos pela indústria.
A película protetora (segunda pele) mostrou-se eficaz na manutenção da qualidade dos pimentões (Figura 3). Pimentões tratados com névoa ozonizada, sem adição da película protetora, apresentaram deterioração da qualidade comercial em até 7 dias de armazenamento a 25ºC e umidade relativa de 60%. Em contrapartida, aqueles tratados com névoa ozonizada e protegidos pela película mantiveram sua aparência comercial por até 21 dias, em condições de armazenamento de 25ºC e umidade relativa de 60%. Esse resultado é crucial para produtores e comerciantes, pois pode significativamente prolongar a vida útil dos pimentões no mercado.
É importante destacar que a película protetora usada como segunda pele não altera os níveis de gases presentes dentro da embalagem. As médias de presença de O₂, CO₂ e N₂ dentro da película protetora contendo pimentões variaram de 19,61-20,00%; 0,61-0,96% e 79,09-79,66%, durante todo período de armazenamento, respectivamente. Esses valores estão dentro das faixas observadas para a disponibilidade desses gases no ambiente.
A névoa ozonizada é eficaz na sanitização sem molhar os frutos, economiza água e não é tóxica para humanos, sendo segura em ambientes com trabalhadores. Pesquisas recentes confirmam sua eficácia como sanitizante para frutas, hortaliças e produtos agrícolas, tornando-a uma solução sustentável e eficaz para a indústria de alimentos. Recomenda-se seu uso para prolongar a vida útil de pimentões e garantir a qualidade microbiológica dos alimentos.
Desta forma, com base nos resultados obtidos no presente estudo, podemos concluir que:
- Todos os tempos de armazenamento avaliados (0, 7, 14 e 21 dias) demonstraram que a aplicação de névoa ozonizada (5, 10 e 15 minutos) foi eficaz na eliminação da contaminação microbiológica dos pimentões vermelhos;
- Os parâmetros de qualidade do pimentão não foram significativamente alterados por nenhum dos tratamentos avaliados;
- O tempo de armazenamento não teve efeito significativo na eficácia do ozônio na análise microbiológica, porém afetou significativamente a cor, percentual de perda de massa e tamanho dos pimentões;
- A utilização de embalagem de segunda pele preserva a qualidade do pimentão.
Para obter sucesso na utilização da névoa ozonizada e reduzir a carga microbiológica dos pimentões vermelhos, é crucial ajustar adequadamente o tempo de exposição e a concentração de ozônio. Além disso, é fundamental garantir a higienização adequada do ambiente de trabalho para evitar a recontaminação do produto tratado por fontes externas. Utensílios de trabalho, como máquinas de embalagem e materiais cortantes, devem ser rigorosamente sanitizados antes do uso no processamento de produtos higienizados.
Autores:
- Eugénio da Piedade Edmundo Sitoe (eugenio@myozone.com.br);
- Vivaldo Mason Filho (vivaldo@myozone.com.br);
- Franciane Colares Souza Usberti (fran2606@unicamp.br);
- Rosa Helena Aguiar (rosahel@unicamp.br)
- Adriana Naomi Owada Ono (naomiono@unicamp.br).
Referências Bibliográficas:
Chinchkar, A. V., Singh, A., Singh, S. V., Acharya, A. M., & Kamble, M. G. (2022). Potential sanitizers and disinfectants for fresh fruits and vegetables: A comprehensive review. Journal of Food Processing and Preservation, 46(10), e16495. https://doi.org/10.1111/jfpp.16495
Dong, X., Liang, X., Zhou, Y., Bao, K., Sameen, D. E., Ahmed, S & Liu, Y. (2021). Preparation of polylactic acid/TiO2/GO nano-fibrous films and their preservation effect on green peppers. International Journal of Biological Macromolecules, 177, 135-148. https://doi.org/10.1016/j.ijbiomac.2021.02.125
Lin, A. H., & Tsai, S. W. (2023). Dietary intakes of trihalomethanes and haloacetic acids from ready-to-eat vegetables in taiwan. Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology, 33(5), 824-830. https://doi.org/10.1038/s41370-022-00465-2
Magalhães, C. G. (2023). Tecnologias de aplicação do ozônio no tratamento pós-colheita de lichia, morango e acerola. https://locus.ufv.br//handle/123456789/32177
Tanuwidjaja, I., & Fuka, M. M. (2022). Ozone in droplets and mist in inhibition of phytopathogenic microbiota. Agriculture, 12(11), 1875. https://doi.org/10.3390/agriculture12111875
Tominaga, M., Tanaka, T., Sakoda, T., Mizoguchi, N., & Kushima, Y. (2015). Study on Plasma Sterilization of Plant Anthracnose Pathogen in Water Mist. Information Engineering Express, 1(4), 11-20. https://doi.org/10.52731/iee.v1.i4.18
Zhang, X., Ma, M., Ye, B., Liu, L., & Ji, S. (2021). Calcium ion improves cold resistance of green peppers (Capsicum annuum L.) by regulating the activity of protective enzymes and membrane lipid composition. Scientia Horticulturae, 277, 109789. https://doi.org/10.1016/j.scienta.2020.109789