Na última semana, a diretoria da Associação Brasileira de Ozônio – ABRAOZÔNIO, vêm recebendo diversas consultas de pessoas, entidades, empresas e autoridades que estão auxiliando no resgate e ajuda nas áreas afetadas pelas enchentes do Rio Grande do Sul. A pergunta mais solicitada é: como o ozônio pode ajudar na desinfecção de ambientes e remoção de mal cheiro?

Apesar das pessoas conhecerem a capacidade biocida do ozônio, ainda existem muitas dúvidas de como adquirir e como usar de forma segura. Sendo assim, a ABRAOZÔNIO, através de sua diretoria e associados, decidiram formalizar este documento para esclarecer sobre o uso correto e seguro para uso da tecnologia.

Sobre o ozônio:

O ozônio é um gás instável representado pela forma molecular “O3”.  Sua síntese acontece através da exposição do oxigênio “O2” é submetido a uma alta quantidade de energia capaz de romper as suas ligações moleculares promovendo a separação da molécula de oxigênio “O2” em oxigênio molecular “O”. O átomo livre de oxigênio “O” se une a uma outra molécula de oxigênio “O2” e sintetiza o ozônio “O3”.

Com o ozônio é sintetizado

Figura 1 – Como o ozônio é sintetizado. Fonte: myOZONE

O equipamento usado para produzir ozônio é conhecido como gerador de ozônio ou ozonizador, necessariamente usado, no próprio local e instante de aplicação, pois o tempo de meia-vida do ozônio gasoso na atmosfera em temperatura ambiente é muito curto (30 – 50 min) nas condições ambientes e na presença de matéria orgânica no ar pode ser menor ainda (KELLS et al., 2001). Logo após o processo de síntese, o ozônio degrada-se em oxigênio em alguns minutos e não pode ser armazenado. Sendo assim, o ozônio necessita ser produzido no local em que ele será utilizado.

A tecnologia de “Corona” ou “Plasma” é a mais eficiente e a mais utilizada nos processos de síntese de ozônio em indústrias. O ozônio é gerado através de uma descarga elétrica de alta energia contendo um campo elétrico entre dois eletrodos com um dielétrico no meio que pode ser de vidro ou cerâmica. Apresenta-se na Figura 2 a uma célula de produção de ozônio por descarga elétrica.

Geração de ozônio por corona

Figura 2 – Célula de produção de ozônio por descarga elétrica. Fonte: myOZONE

Ao energizar a célula rompe-se o isolamento dielétrico (vidro ou cerâmica) e cria-se o que chamamos por efeito corona. Este fenômeno acontece quando ocorre a ionização do gás ao redor de um condutor elétrico, ocasionando em uma luz azul com um “ruído brilhante”. Neste efeito, os elétrons servem como meio dielétrico por onde passa a corrente elétrica de alta tensão. Apresenta-se na Figura 3 um desenho esquemático da célula para a produção de ozônio.

Figura 3 - Síntese da produção de ozônio pelo método de descarga elétrica

Figura 3 – Síntese da produção de ozônio pelo método de descarga elétrica. Fonte: myOZONE

À medida que as moléculas de oxigênio passam pelo campo elétrico, os átomos de oxigênio perdem elétrons e separam-se em dois átomos de oxigênio. Estes, por sua vez, são muito ativos e se combinam imediatamente com outras moléculas de oxigênio para produzir o ozônio (O3).

A reação é representada pelas seguintes equações:

Figura 2.3: Representação Eletrônica de Lewis

Figura 2.3: Representação Eletrônica de Lewis. Fonte: myOZONE

 

Ozônio gasoso na remoção de odores e descontaminação de ambientes

A utilização do ozônio gasoso, também conhecido como oxi-sanitização teve um papel importante durante os anos de pandemia auxiliando no combate do Coronavírus. Isto porque, o ozônio é um método seguro e eficaz de desinfecção, capaz de remover quantidades impressionantes de vírus, bactérias, fungos e ácaros. Além disso, ele não deixa resíduos químicos no ambiente e superfícies após a sua aplicação e degradação. Além disso, o ozônio é um gás natural que se decompõe rapidamente a oxigênio, não deixando nenhum resíduo tóxico no ambiente tratado, sendo considerada uma técnica sustentável e ambientalmente correta.

O ozônio gasoso é uma ferramenta poderosa e ágil que viabiliza o retorno das pessoas desabrigadas durante as enchentes aos seus lares, proporcionando ambientes descontaminados, eliminando odores e risco de doenças principalmente as respiratórias.

As enchentes do Rio Grande do Sul causaram não só prejuízos econômicos. Elas também trouxeram mortes de pessoas e animais por afogamento, perdas de plantações, veículos, casas e outros bens materiais por alagamento. Estimam-se que muitos negócios não conseguirão ser reabertos, gerando insegurança para reerguer seus negócios no mesmo local. Isto provocará desempregos, desvalorização imobiliária e prejuízos econômicos e sociais incalculáveis.

Com a redução do nível das águas, estão sendo encontrados pessoas e animais mortos, lixos espalhados pelas ruas e moradias com pertences de famílias destruídos pelas águas. Segundo relatos de voluntários, socorristas e moradores, o mal cheiro dentro dos imóveis, indústria de alimentos, supermercados, padarias, restaurantes causados pela água contaminada por cadáveres, esgoto, fossas, ratos, baratas etc.

A contaminação deixou não só um mal cheiro ruim nas ruas, mas também nas casas e empresas que trabalham com alimentos e saúde. O maior desafio não está só na limpeza do barro deixado pelas enchentes, mas principalmente na descontaminação destes ambientes.

O ozônio gasoso é um excelente sanitizante para prover saúde, bem-estar e qualidade de vida por meio da desinfecção de ambientes. No brasil, a desinfecção de ambientes com ozônio é conhecida como “oxi-sanitização”. Nessa aplicação, o ozônio promove uma desinfecção tanto do ar, quanto das superfícies de objetos. Essa ação sanitizante estende-se sobre contaminantes de ordem química e de ordem microbiológica, como odores e microrganismos, respectivamente.

Como realizar a “oxi-sanitização” de forma segura?

Apesar do ozônio ter as propriedades de desinfecção, faz-se necessário utilizar um gerador de ozônio que produza a quantidade adequada de ozônio para o tamanho do ambiente a ser tratado. O primeiro passo é buscar orientação de fabricantes experientes. Estes equipamentos possuem preços acessíveis e utilizam o próprio oxigênio do ar para produzir o ozônio, dispensando a necessidades de uso de cilindros de oxigênio ou concentradores de oxigênio medicinal.

Quando liberado no ambiente, o ozônio reage com os microrganismos presentes no ar e superfícies, destruindo suas estruturas celulares e eliminando sua capacidade de reprodução.

É importante ressaltar que a “oxi-sanitização” com ozônio deve ser realizada com atenção a fim de que se tenha os benefícios do ozônio e para que não haja intoxicação, uma vez que o ozônio é tóxico se for respirado. Por isso que, para a aplicação do ozônio se faz necessária a utilização de uma máscara de carvão ativado para evitar a inalação acidental do gás.

  1. Preparação do ambiente para aplicação do ozônio:
  • Realize uma limpeza prévia do local para remover, água, barro, poeira, sujeira e resíduos que possam interferir na eficácia da “oxi-sanitização”. Uma limpeza prévia à desinfecção melhora o resultado almejado.
  • Feche portas, janelas e qualquer abertura que possa permitir a saída do ozônio durante o procedimento de sanitização. A não liberação de ozônio para fora do ambiente a ser sanitizado, ajuda a otimizar a eficiência da ação sanitizante do ozônio.
  • Abra portas e gavetas de armários para permitir que o ozônio possa adentrar a esses espaços e exercer seu papel sanitizante.
  • Certifique-se de que não haja a presença de pessoas e animais no ambiente a receber a sanitização com ozônio. Caso haja plantas no recinto, retire-as.

 

  1. Aplicação do ozônio:
  • Leia sempre o manual de instruções do gerador de ozônio a ser utilizado a fim de seguir as orientações do fabricante quanto ao uso do equipamento.
  • Sinalize o local que passará pela sanitização com ozônio a fim de não permitir a entrada de pessoas.
  • Posicione o gerador de ozônio em torno de um metro de altura do chão e o máximo possível ao centro do ambiente.
  • Ligue uma fonte de ventilação de ar como um ventilador de ar, ou até mesmo um aparelho de ar-condicionado (20oC), com a máxima intensidade de ventilação. Isso ajuda no espalhamento do ozônio por todos os “cantos” do interior do ambiente.
  • Ligue o gerador de ozônio de acordo com o tempo indicado pelo fabricante do equipamento.
  • Saia do ambiente e tranque-o, e garanta com que animais adentrem ao recinto.

 

  1. Pós aplicação do ozônio
  • Terminado o tempo da ozonização que foi configurado no gerador de ozônio, você não precisa necessariamente abrir o ambiente. Caso você possa esperar, deixe o ambiente como está, pois, enquanto houver ozônio a sanitização vai ocorrer e um melhor resultado de sanitização você terá.
  • Para voltar a entrar no ambiente que recebeu aplicação de ozônio, você deve utilizar uma máscara de carvão ativado. Dessa forma, abra janelas e afins para promover ventilação e liberação do ozônio residual para fora do ambiente. Atenção para que o ozônio não saia do ambiente (quarto, escritório etc.) para dentro da casa, mas sim para o lado exterior do recinto.
  • Deixe o ambiente sob arejamento por pelo menos 3 horas para que, após esse tempo de expurga do ozônio residual, ele possa voltar a ser acessado.

 

Esses passos são essenciais para garantir a eficácia e a segurança da “oxi-sanitização” em ambientes. É importante seguir todas as instruções do fabricante do equipamento e as normas de segurança e legislação vigente para evitar danos à saúde e ao meio ambiente.